domingo, 30 de maio de 2010

Revistas


Em dois registos facilmente sobreponíveis - o da arquitectura e o da decoração (heresia!) - neste âmbito abundam as publicações de encher o olho e fertilizar a imaginação. A qualidade dos conteúdos (às vezes dentro da mesma edição) é quase tão díspar como os preços (com as revistas espanholas a bater aos pontos pela positiva) e, por muito que se esforcem na encenação, nem sempre as 'instalações' conseguem tornar credível a habitabilidade dos espaços. São raros os bons exemplos de recuperação, abundando ao invés as assinaturas de autor (as que mais parecem desrespeitar as 'assinaturas' do edifício). Contudo, funcionam sempre como bons activadores de ideias, desde que se equacione sempre a singularidade dos lugares e de quem os habita.

sábado, 29 de maio de 2010

Escadas para o quintal


Uma folha de rascunho, uma caneta manhosa e uma tábua solta: um esboço, como se fazia antes das máquinas fotográficas, quando confiávamos mais nas imperfeições do olhar e da memória.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O novo e o antigo


É inevitável (e irreprimível) começar a pensar nas peças que vão compor as diferentes divisões: vão passar a fazer parte da história da casa, algumas delas transportando as suas próprias histórias, a que agora acrescentam um novo capítulo. Nalguns casos, vão ajudar mesmo a articular o antigo com o contemporâneo. A escolha impõe, portanto, bom senso e ponderação e, como sempre nestas coisas, acreditamos em critérios firmes, racionais: funcionalidade, volume, adequação ao espaço, design, durabilidade, orçamento. Mas no final da viagem, hélas, os felizes seleccionados são sempre e apenas os que nos conquistam o coração.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Entrada



Uma porta de rua de estilo tradicional, em madeira, com a caixinha das cartas e as proverbiais janelinhas que tantos rostos enquadraram e tantas frases ouviram na sua história de décadas ("ó vizinha, não posso que tenho o tacho no lume!"; "os correios deve de estar atrasados que inda num recebi o cheque, ande lá faça-me um jeitinho"; "você já me viu? parece impossível, e nem são casados!"; "tu queres bere? andor violeta!"; "ó Nanda, arranje-me um pezinho de salsa"; "o Nelo pode vir brincar?"; "não, não mora ninguém aqui com esse nome que está aí na factura..." - entre outros clássicos).
Logo à entrada, do lado direito, a caixa dos contadores, com a sua amorosa grafia datada.

domingo, 23 de maio de 2010

Mezzanine


(foto Carlos Melo)
A partir do quarto principal, uma perspectiva diferente do telhado, que permite visualizar a estrutura em duas águas. O 'buraco' à esquerda é o da clarabóia, que deixará em breve de se apreciar daqui (será envolto por uma estrutura em funil invertido para o vão da escada). À direita, uma janela num patamar a que se terá acesso do próprio quarto através de uma escada. A mezzanine (para além de dar nome ao melhor álbum dos Massive Attack) nomeia a ideia de piso intermédio aberto, que pode permitir criar amplitude ao espaço e aproveitar o pequeno 'quarto piso', cujo destino funcional permanece uma incógnita (um sítio para contemplar as estrelas?) Seja como for, a engenharia revela-se passo a passo uma ciência desconcertante e quase bela na harmonia resultante de cálculos, encaixes, pesos e propriedades.

sábado, 22 de maio de 2010

Espécies locais


Gatos e comércio tradicional: com ambos, boa vizinhança é um imperativo, uma vez que estão no seu ambiente natural. Para já avistamos uma mercearia, um quiosque, uma padaria, alguns cafés e várias famílias de felinos vadios.

O primeiro residente oficial...


... ocupa a casa com devida autorização, mas mais cedo ou mais tarde vai ter que ser realojado.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Algumas boas razões para se viver na baixa

- possibilidade de sentir e participar no pulsar da urbe
- evitar os monstros de betão, lugares frequentemente desumanizados, desprovidos de personalidade e concebidos para a experiência anónima e solipsista
- ter contacto directo com as ruas, o comércio, as gentes, os rumores, os sabores, a cultura e o lazer, tudo vivido em primeira mão e numa escala tangível
- perspectivar a mobilidade de outra forma, recuperando o uso dos transportes públicos, o andar a pé ou eventualmente a bicicleta (apesar da geografia acidentada, já existe um número considerável de adeptos na cidade)
- o factor económico: é preciso capital para comprar na baixa, mas ainda é possível encontrar boas oportunidades e trata-se de um investimento seguro
- contribuir para a preservação de um património e uma identidade
- habitar espaços com história e passar a fazer parte dessa história
- ...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desca(e)scadas


Sem reboco nas paredes e com o tabique exposto, as escadas demonstram a sua versatilidade plástica, oferecendo um cenário completamente diferente. Prova mais que evidente, para nós, que vale bem a pena registar as mutações.

terça-feira, 18 de maio de 2010

domingo, 16 de maio de 2010

O tecto em pedaços


Imagens do atelier de restauro. Como se pode ver, o tecto foi literalmente recortado em porções de tamanho variável, de acordo com as exigências dos desenhos em gesso e das leis da física. Aparentemente, poucos se dão a este minucioso trabalho, optando por aplicar novos florões. Tratando-se do elemento decorativo mais significativo e 'nobre' da casa, a opção por preservar parece justificar-se. Resta aguardar pelo resultado final.

Vista em planta de um tecto


Desenho do tecto retirado para recuperação e posterior aplicação. Apesar de parecer um erro de perspectiva, corresponde à representação literal à escala da divisão que corresponde à futura sala de estar (a vertente superior, mais comprida, é a do lado nascente, virada para a rua).

sábado, 15 de maio de 2010

Hipoderme, derme e epiderme...


O telhado em camadas: o travejamento inicial, em pinho 'casquinha'...

... seguido da madeira de enchimento. Por cima desta, ...

... com função de isolamento, ventilação e impermeabilização, segue-se uma camada de roofmate (poliestireno extrudido)...

... e outra de Onduline (sub-telha); é sobre esta última que...

... a telha de cerâmica francesa (o nome não remete para a origem, mas para a tipologia) será em breve aplicada, fechando o ciclo e a cobertura da casa.

Portas e portadas


Enquanto aguardam a recomposição de toda a estrutura, portas, portadas e janelas retiram-se paulatinamente de cena. O momento do regresso chegará, possivelmente implicando uma transição de espaço (sobretudo as peças que contactavam com o exterior, que serão substituídas por motivo de isolamento térmico), mas não se perderá a sua utilidade. Aventou-se a hipótese de metamorfosear algumas delas em portas de armários, respondendo assim ao postulado 'verde' da reciclagem de materiais.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Arquitectura para leigos













Perante aquilo que os sociólogos chamam os sistemas periciais (as tecnologias que sustentam em grande medida e de maneira cada vez mais complexa e abrangente o nosso modo de vida), o homem comum sente-se cada vez mais fragilizado e impotente. Entre o desconhecimento total e a possibilidade de aceder com um simples clique a um manancial de informação impossível de digerir, o homem comum socorre-se com frequência de pequenas ferramentas de descodificação. No caso que nos preocupa, tem sido útil a consulta de publicações temáticas cuja linguagem acessível e facilidade de consulta se têm revelado particularmente eficazes. Para já, três pequenos exemplos dedicados à arquitectura vertente recuperação:
- "Reabilitação de Edifícios Antigos - Patologias e tecnologias de intervenção", de João Appleton (Edições Orion): o mais 'técnico' e esclarecedor relativamente aos principais problemas, materiais e propostas)
- "Living City - Habitar a Cidade", de José Manuel das Neves (org.) (editora Trueteam)
- "Casas Recuperadas II", de José Manuel das Neves (org.) (editora Calidoscópio)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Estatigrafias


A beleza é a intersecção possível entre uma experiência subjectiva e o referente cultural que a envolve. Daí que o olhar nunca será livre para apontar para uma parede (onde antes existia uma escada e passou a ficar uma espécie de registo estatigráfico) e dizer: que bonito! Mas que dá vontade dá...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fachadas recriadas




Na fachada tardoz (traseira), os dois pisos superiores incluem duas pequenas varandas. Com a excepção da parte lateral esquerda, onde se acede à escada para o quintal, são plataformas provavelmente erguidas posteriormente ao edifício original (de facto são de cimento, e não de pedra). Na primeira imagem, já é possível ver o primeiro piso sem as janelas em guilhotina (irremediavelmente degradadas), que anteriormente fechavam em 'marquise' a varanda. A ideia de abrir completamente o espaço, substituindo o enquadramento em cimento pelo prolongamento do varandim em ferro, esbarrou-se com a necessidade de manter o pilar, que 'segura' a varanda do segundo piso. A segunda imagem ensaia essa hipótese (virtual), deslocando-se a coluna um pouco para a direita, para uma posição menos intromissiva. A terceira imagem é uma experiência com a aplicação das cores originais da casa, que se pretendem reproduzir: o clássico pigmento amarelo com as caixilharias em bordeaux. Bem haja, photoshop.

domingo, 9 de maio de 2010

Sala e cozinha em curso



Pormenor da intervenção na sala e cozinha: o acesso já se consegue fazer directamente do corredor de entrada, directamente por três pequenos degraus. Ao entrar, em frente haverá espaço para um louceiro. Por trás da pequena escada, um recanto na parede irá abrigar o frigorífico e o forno, permitindo ao olhar concentrar-se no restante espaço e no exterior (quintal). No piso térreo, relembre-se, estava instalada uma barbearia (o ponto comum a este tipo de casas é o facto de albergarem um negócio com entrada directa pela rua, estando reservada às traseiras a função de armazém). A adaptação a um espaço de habitação nas traseiras (para a frente está projectada uma garagem) poderá permitir algumas liberdades formais, ainda que se procure sempre respeitar o espírito da construção original. Ao fim de tanto tempo de sobrevivência, o que é uma casa senão uma sobreposição de usos e marcas do tempo?

sábado, 8 de maio de 2010

Clarabóia #2


Constatada a impossibilidade de preservar a clarabóia original, optou-se, a pretexto da renovação do telhado, por alargar a sua abertura, alimentando a iluminação a partir do centro da casa (directamente para o vão da escada). Enquanto não é terminado o revestimento exterior, um oleado protege os materiais contra o regresso da chuva. A visita acontece no dia em que o aeroporto da cidade pára por causa da nuvem de cinzas da Islândia.

O Porto ilustrado

De uma edição que remonta a 1972, trata-se da reprodução de uma gravura de Manuela Bacelar, ilustre artista da cidade cujo trabalho já fez as delícias de várias gerações de miúdos e graúdos. É uma representação pessoal, retrato mental e afectivo dos lugares de eleição da cidade. Conseguimos um exemplar directamente da autora, que ainda guarda algumas cópias assinadas. Devidamente encaixilhado, vai fazer um brilharete num lugar de destaque no seu novo lar.

"Perguntas de um trabalhador que lê"


Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
Arrastaram eles os blocos de pedra?

E a Babilónia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam
gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?

César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?

Filipe da Espanha chorou,
quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.




Bertolt Brecht
Dedicado aos trabalhadores que põem a mão na massa.

Primeiros vestígios de civilização



domingo, 2 de maio de 2010

Os despojos dos dias







Exoesqueleto


Alguns organismos necessitam, para poder evoluir, de se desfazer do seu exoesqueleto e formar um novo, num processo designado por muda ou 'ecdise'. Esta capacidade tem sido considerada uma vantagem evolutiva, porque permite uma melhor adaptação ao ambiente.