domingo, 29 de novembro de 2009

O que se aprende

1. Os loteamentos no Porto foram feitos com a largura de cinco metros e meio. Isso explica a regularidade que podemos encontrar na casa típica da cidade, independentemente da profundidade, altura e diversidade de materiais e ornamentos.
2. Seja qual for for o sistema de aquecimento adoptado, casas com estrutura em pedra significam duas coisas: demoram mais tempo para aquecer, mas conservam mais tempo a temperatura.

sábado, 28 de novembro de 2009

Arquitectar #2

O segundo encontro com a jovem equipa de arquitectos que visitara a casa revela-se um momento pouco esclarecedor. A reunião faz-se numa casa recuperada, para mostrar hipóteses de trabalho, mas algumas soluções, apesar de esteticamente interessantes, levantam algumas dúvidas que a escassa conversa (essencialmente centrada na orçamentação) acaba por não resolver. Um dia depois, um pequeno mas simpático encontro com o primeiro arquitecto, que já visitara a casa, acaba por se revelar mais elucidativo. Fala-se de materiais, discutem-se propostas concretas, enfim, aprofunda-se a sintonia de interesses. Nisto de estarmos à mercê do que o Giddens chama sistemas periciais (aqueles que não compreendemos mas que sustentam de forma irreversível a nossa vida, como as redes informáticas ou os motores dos aviões), não há como um diálogo descomprometido para nos devolver alguma ilusão de segurança e de apropriação dos nossos projectos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Janelas

Elemento fundamental numa habitação urbana, as janelas são como que as asas de uma casa. Elas possibilitam o trânsito de olhares entre dentro e fora, assim como o jogo de luzes que dinamiza todo o interior ao longo de várias estações e dentro de um mesmo dia.
Ficam alguns exemplares, aqueles cuja luz permitiu fotografar. O estado de conservação é variável e levanta dúvidas naturais quanto à capacidade de isolamento térmico destas caixilharias. Soluções ventiladas: acrescentar uma caixilharia nova por dentro, mantendo a original por fora; substituição das caixilharias por outras novas, em madeira; demolição das varandas cobertas (trata-se, em dois casos, de intervenções posteriores, que reduziram seguramente a luminosidade original). Já disse que se aceitam bitaites?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As escadas


A pedido de muitas famílias, vamos começar a publicar algumas imagens da casa. Para já: as escadas pré-intervenção. Por debaixo das carpetes e linóleos, esperamos encontrar belas madeiras. Faltam dois ou três balaústres (serão substituíveis?). E, mais importante: a planta seca será para preservar? Já agora, para esclarecer: existem dois lanços de escada: um que parte do rés-do-chão para o primeiro piso, e outro para o segundo piso, com ripas de madeira a separar em 'gaiola' as antigas habitações. No topo, uma pequena clarabóia ilumina todo o vão.

domingo, 15 de novembro de 2009

Visita chuvosa

Quem vive no Porto sabe que nos últimos dias a chuva não tem dado tréguas (com excepção do ar de sua graça que o Sol deu ontem, junto a um mar tempestuoso a galgar o molhe da Foz). Contactado novo gabinete de arquitectura, da lista incluída na SRU, ficamos agradavelmente supreendidos com a disponibilidade para uma visita imediata ao imóvel. A chuva e a escuridão não mostraram a casa no seu melhor. As impressões (e as fotos) recolhidas pelos dois arquitectos serão discutidas numa entrevista a agendar no próprio gabinete. Para já, parecem adeptos da máxima conservação e mínima intervenção. A ver vamos.

As chaves!

As chaves vieram num molhe, como que a indicar que as portas que se abrem não são apenas as visíveis ao primeiro olhar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Escritura!

Depois de dias seguidos de céu cinzento e chuvoso, o Sol decidiu dar um ar da sua graça, como se para abençoar o início desta aventura. A escritura, acto burocrático feito de discursos solenes e gestos ritualizados, foi pretexto para a passagem de vários testemunhos: o das chaves, objecto que consubstancia a possibilidade de entrada numa nova etapa; e o de algum do historial da casa, na pessoa do anterior proprietário, um portuense residente em Lisboa. Ficamos para já a saber que pertencera a uma tia, e que albergara algumas memórias de infância. Posteriormente, foi arrendada a um barbeiro, que abriu o estabelecimento no piso térreo e se instalou no primeiro piso. O segundo piso era ocupado por uma viúva. Foi a última residência de ambos, e a idade provecta em que desapareceram é inspiradora de bons augúrios de longevididade para os novos residentes.

domingo, 8 de novembro de 2009

Arquitectar

Antes da decisão, um amigo arquitecto acedeu gentilmente a visitar o imóvel. É sempre bom ter um olhar mais técnico e experiente. Permite aventar hipóteses, aumentar as perspectivas de análise e assumir uma opção com (um pouquinho mais de) segurança. Quanto a misturar amizade com trabalho, a política da casa é: evitar a todo o custo. Estas relações são difíceis e querem-se no plano profissional, para não contaminar afectos e discernimentos. Posto isto, optámos por visitar um atelier que conhecíamos de pesquisas pela Internet ou revistas da especialidade. A entrevista serviu para tactear empatias, e correu bem: clareza de intenções, disponibilidade para explicar o processo, e compreensão dos nossos propósitos parecem bons presságios. Quando se fala de recuperar, talvez isso seja mais importante do que tudo o resto. Mais uma ou duas entrevistas devem permitir assumir uma escolha.

Visita à Porto Vivo


Ainda não levávamos certezas nem documentos (a escritura ainda não foi feita, embora esteja agendada), mas pareceu-nos lógico fazer uma visita à Porto Vivo - S.R.U. (Sociedade de Reabilitação Urbana). Várias impressões: sendo um organismo público, pressente-se alguma impotência perante esse outro monstro burocrático que reside na Câmara Municipal; por outro lado, essa impotência também se traduz nalgum sentido prático, na procura de alternativas que permitam agilizar o processo. Ficámos despachados com algumas dicas sobre licenciamentos e info sobre eventuais incentivos financeiros: os mais pertinentes, para já - desconto em materiais de construção (aparentemente limitado às firmas associadas ao programa) e isenções de taxas municipais (IMT's, IMI's e afins).

A pesquisa...

Uma busca persistente é também uma descoberta do que o Porto tem de melhor para oferecer: as suas casas, por dentro e por fora. Aqui ficam alguns dos melhores exemplos que encontrámos em sensivelmente dois anos:

Uma casa gigante na Rua do Heroísmo, já um pouco fora da zona de procura inicial. Ao lado, uma casa gémea testemunhava uma intervenção, que visitámos. Principais problemas: localização (rua com demasiado movimento), dimensão e preço.


Casa na rua Duque de Palmela: uma paixão assolapada, ainda nos fez deslocar à câmara municipal para obter informações sobre licenciamentos. Em muito bom estado, numa zona óptima e com bom preço, o inevitável aconteceu: foi vendida antes que se pudesse fazer uma proposta. Felicidades para os novos proprietários!


Casa mais pequena, ainda na zona do Bonfim (há quem a conheça como "a pequena Paris"): bom tamanho e bom preço, embora entre uma primeira e uma segunda visita se tenha degradado visivelmente (nestas coisas basta um pequeno buraco no telhado durante um Inverno). Único mas significativo contra: as traseiras confinavam com uma garagem de automóveis, sendo pouco recomendáveis as chaminés que emanam os vapores resultantes das pinturas.


Baptizada por nós como "a casa esquinada", trata-se de outra maravilhosa surpresa perto do final de Santos Pousada: boa localização, bom estado de conservação, todos os pormenores maravilhosos que estas casas contêm podiam ser encontrados aqui. Contras: o tamanho e o preço (a ponderação inclui, naturalmente, uma estimativa da intervenção num imóvel destas dimensões e uma previsão dos custos posteriores de manutenção).

sábado, 7 de novembro de 2009

Sonhar, esboçar...


Não é preciso muito para armar ao arquitecto: uma folha de rascunho, uma caneta, fotografias mentais, um café e alguma imaginação.

Era uma vez...

... uma ideia tornada vontade, uma vontade tornada desejo, um desejo tornado paixão e uma paixão tornada obsessão: viver numa casa na baixa. O Porto, a cidade inevitável, lugar onde estas coisas germinam e se alimentam. Com este blog, vamos tentar registar e partilhar a experiência da recuperação de um imóvel da baixa portuense. Há um prelúdio para tudo isto (uma prequela, se quiserem, como está na moda agora nas sagas de Hollywood), que deveria incluir todos os passeios sem destino pelas ruas da invicta, pelo simples prazer do deslumbre pedestre. Foram muitas as surpresas e alguns os sonhos que preencheram esse período, que continua agora com um espírito diferente: o do reconhecimento da zona da casa, como um animal que fareja o território onde espera instalar o seu ninho, a sua sede de operações, o seu lar. Depois de muitas telefonemas, horas de almoço investidas em visitas, apertos de mão a agentes imobiliários, o conhecimento do mercado aprofundou-se (superando, com frequência, o domínio da matéria dos próprios vendededores) e a selecção depurou-se. Afinaram-se critérios, aprofundou-se a ciência dos orçamentos e por fim, sereno, o resultado apareceu: a casa estava escolhida.