quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma rua na baixa

Numa rua mal afamada, não há como ver as coisas com olhos de ver. E descobrir, então, que como animais sociais, somos muito achacados aos mitos urbanos, ou por acreditarmos neles, ou por os reproduzirmos, ou por os inventarmos e recriarmos. Alguns dos mitos mais enraizados na história recente da cidade do Porto são os da insegurança e da indigência. Ninguém poderá negar, obviamente, que existem pólos de criminalidade, essencialmente ligados a fenómenos de toxicodependência. Mas partir daí para demonizar toda a baixa é algo que, no mínimo, revela ignorância e pouca vontade para combater preconceitos. É certo que o Porto, como muitas outras cidades, sempre teve o seu lado bas fond, em grande medida fruto da actividade conhecida como a mais velha profissão do mundo, muitas vezes também próximo de expedientes hoje em dia conhecidos como 'economia paralela' ou 'informal' e frequentemente palco de um alcoolismo endémico, estrutural e cultural. Mas existe sempre um outro lado (muitas vezes no mesmo local, em horas diferentes): o do pequeno comércio, dos serviços, da sociabilidade, da vizinhança, das festas populares, da restauração, dos miúdos a brincar, das senhoras a dar à letra, de um germe de cosmopolitismo e da história continuamente recriada, feita pelos habitantes e transeuntes destas artérias graníticas e seculares. Nada nem ninguém poderá silenciar isso. Certo?

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bons estes temperos sociológicos.

P&T disse...

Defeitos de formação...